Ulysses Rodrigues de Castro, médico psiquiatra e diretor do HRAN, conta como foi gerenciar um hospital de referência para atendimento do novo coronavírus.  

O primeiro caso da doença no Distrito Federal foi confirmado no dia 7 de março. Naquela época, o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) foi a unidade habilitada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratar da ocorrência do vírus e já dispunha de um andar inteiro do hospital para combater a doença. Desde então, as unidades e os leitos se multiplicaram para salvar vidas. Responsável pela direção do HRAN, o médico psiquiatra Ulysses Rodrigues de Castro, contou um pouco da ação estratégica da unidade de saúde que foi escolhida como referência para o tratamento do novo coronavírus. Segundo o diretor, mais de 45 mil pessoas foram atendidas até setembro deste ano.

Para homenagear esses médicos que atuaram na linha de frente, na semana do Dia do Médico, o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), entrevistou alguns médicos para contar um pouco da rotina desses profissionais.

Como é ser médico no meio de uma pandemia de um vírus desconhecido?

Dr. Ulysses Rodrigues – A profissão médica em sua formação lida com o imponderável, à imprevisibilidade no aspecto de se perscrutar a clareza das patologias dos pacientes, nesse sentido parafraseando Caetano Veloso “… a mente apavora o que não é mesmo velho”. Lidar com doenças novas causa-nos, do ponto de vista médico, uma inspectância, porém um desafio de se cuidar com esmero e uma vigilância redobrada com relação à autoproteção e da equipe de servidores do HRAN.

Tem sido difícil gerenciar um hospital de referência para tratamento da Covid-19?

Dr. Ulysses Rodrigues – Combater o desconhecido não tem sido fácil, houve por parte de toda a equipe, uma adaptação no sentido de vencer o medo, o que nos causou uma satisfação redobrada. A transformação ocorrida por todos da equipe ao novo superou as expectativas e o sucesso da direção se deu pela união e dedicação da equipe. Como toda experiência de mudança, inicialmente houve uma resistência dos trabalhadores que foi rendida pela metamorfose laboral. O reconhecimento dos pacientes e seus familiares bem como da população neste hospital.

Quais as dificuldades enfrentadas?

Dr. Ulysses Rodrigues – Resistência as mudanças impostas pela pandemia a um hospital multidisciplinar para o atendimento exclusivo da Covid-19, geraram mudanças de paradigmas, médicos de todas as especialidades passaram a atuar na clínica. A união e dedicação da equipe foi o sucesso, onde este nosocômio apresentou o menor índice de mortalidade do mundo.

E os pontos positivos? Quantos pacientes foram atendidos na unidade?

Dr. Ulysses Rodrigues – Criamos protocolos específicos de atendimento sendo realizado até a primeira quinzena de setembro/20, um total de 6.800 tomografias com aquisição de mais um tomógrafo. A criação da sala de situação, onde médicos clínicos foram treinados e capacitados por pneumologistas, a sala de egresso dos pacientes da Covid-19, ampliação da Unidade de Terapia Intensiva de 10 para 20 leitos, criação da UCIN dentro do Centro Cirúrgico na área de recuperação pós-anestésico e várias reformas estruturais que ainda estão em curso no HRAN. Chegamos em 45 mil atendimentos e até outubro atingiremos 50 mil, destes 98,5% com pacientes recuperados.

Teve alguma história de superação de profissionais que atuaram no gabinete de crise?

Dr. Ulysses Rodrigues – Alguns profissionais do Gabinete de Crise foram acometidos pela Covid-19, como por exemplo, o superintendente Dr. Carlos Portilho, cirurgião vascular que permaneceu internado por 12 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Eu também fui vítima do SARS-COV 19, fiquei isolado dos meus entes queridos e familiares em função de contaminação laboral, mas com boa recuperação.

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