Médico Marcelo Maia, fala sobre a rotina de trabalho durante a pandemia 

De março a setembro de 2020, aproximadamente 705 pessoas foram internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Luzia, localizado na Asa Sul. Destes pacientes, pelo menos 635 tiveram alta médica. Segundo o médico intensivista da unidade, Marcelo Maia, a média do tempo de internação é de 6,17. Responsável pela UTI, o médico relatou os desafios enfrentados durante a pandemia, a rotina desgastante e como a carga emocional de lidar com o novo coronavírus não desmotivou os profissionais de saúde que se mobilizaram em prol de salvar vidas, se proteger e cuidar da própria família e amigos.

Para homenagear esses médicos que atuaram na linha de frente, na semana do Dia do Médico, o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), entrevistou alguns médicos para contar um pouco da rotina desses profissionais.

Como é ser médico no meio de uma pandemia?

Marcelo Maia – O trabalho do médico intensivista, por si só, prevê jornadas de trabalho extensas e momentos de alta carga emocional. Tecnicamente por estarmos na linha de frente ao atendimento de pacientes graves acometidos por uma doença viral, que por vezes pode ocasionar desfechos desfavoráveis, trouxe a exaustão a vários profissionais. A busca incessante pela recuperação dos pacientes é um grande desafio que vem sendo vencido com maestria por estes profissionais.

Ficou longe da família? Como foi lidar com o distanciamento social?

Marcelo Maia – Desde o início da pandemia, devido ao aumento da carga de trabalho, passei a permanecer mais longos períodos no hospital, minha esposa também trabalha em área hospitalar, isso fez com que nos adaptássemos a este modelo sem deixar nossos filhos desassistidos. O distanciamento dos nossos entes queridos se tornou uma realidade para nós, além de convivermos com a possibilidade de transmitir o vírus para nossas famílias. Também perdemos alguns colegas nesta luta, a todos eles e aos seus familiares, presto a minha homenagem.

Como foi a experiência de atuar na linha de frente e quais os seus pontos positivos?

Marcelo Maia – A pandemia nos trouxe um enfrentamento de uma doença desconhecida, possuíamos experiência em outros ‘‘spreads virais’’ porém não tínhamos a idéia da complexidade e extensão do que estaria para acontecer. Positivamente ocorreu a mobilização de profissionais nas UTIs para trabalharem em prol de um objetivo principal, a reversão de quadros de disfunção orgânica múltipla de pacientes que estavam sendo admitidos em grande quantidade nas UTIs, elevando o estresse das equipes. Os médicos intensivistas, por serem acostumados a trabalhar em um ambiente desafiador, também não eram muito reconhecidos e por vezes pouco valorizados. Neste momento de dificuldade, a presença deste profissional em situações de real gravidade fez a diferença.

Quais as dificuldades enfrentadas? Presenciou alguma história de superação que te marcou?

Marcelo Maia – Em vários momentos vivenciamos situações difíceis, famílias foram dizimadas pelo vírus, casos de pais que viram seus filhos falecerem sem possuir comorbidades, foram tristes realidades que ocorreram. Dentre os vários casos, o que me marcou foi a de um filho que levou a mãe em situação crítica com insuficiência respiratória aguda e ela necessitou ser intubada, entorno de cinco dias após, ele também precisou ser internado com quadro respiratório grave, ambos permaneceram na unidade em ventilação mecânica invasiva por vários dias, conseguimos retirar da ventilação mecânica a mãe, mas o filho veio a falecer semanas depois. Cada paciente grave com disfunção orgânica múltipla que recebia alta da UTI era para nós uma vitória e foram muitos, me tornei amigo de vários deles e de suas famílias.

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